O património emocional das empresas
Há questões que estão sempre no ar em encontros académicos e profissionais de Recursos Humanos (RH), que reflectem o estado de perplexidade e incerteza que prevalece em situações ambíguas, criadas pela mudança rápida e imprevisível das organizações e do mundo dos negócios. São perguntas que podem ser formuladas de forma clara ou velada, mas são persistentes:
- Qual a responsabilidade da área dos RH?
- Qual o seu futuro e destino?
- Deve desaparecer ao longo do tempo?
- Quais são as tendências futuras?
Estas perguntas têm raízes profundas: o mundo mudou, e como! As empresas, naturalmente, também estão nesta mudança. Algumas estão na vanguarda, outras estão paralisadas e confusas, sem entenderem exactamente o que ocorre ao seu redor. Portanto não é surpreendente que a área de RH também passe por mudanças. A globalização, o rápido desenvolvimento das tecnologias da informação, a necessidade de reduzir custos, o foco no cliente, a qualidade total e a necessidade de competitividade são poderosos efeitos que a área de RH não pode ignorar. Assim, se o mundo mudou e as empresas também mudaram, a área dos RH deve acompanhar essas mudanças.
A complexidade do tema, com vista à sobrevivência das empresas no novo século, vai mudar o ambiente de negócios, a clareza dos objectivos a serem alcançados, o senso de responsabilidade das pessoas, e levará a uma maior liberdade na escolha dos meios e métodos para atingir esses objectivos.
As sociedades contemporâneas intensificaram o uso do conhecimento. Portanto, depende cada vez mais da educação formal das competências da população: do capital humano, que é a base que sustenta a pirâmide organizacional. Embora tardiamente, as empresas começam a olhar com atenção para a sua principal riqueza: as pessoas. É através dos seus talentos, criatividade, motivação e empenho que as organizações atingem os seus objectivos. falar de pessoas é falar de emoções e da responsabilidade social das organizações em edificar saudavelmente este património emocional da empresa.
No desdobramento das tarefas do gestor de RH, é fundamental o encaixe da gestão e optimização deste património, respeitando o passado mas orientando-o para o futuro em prol do negócio. É vital cuidar e estimular a inteligência emocional das pessoas que suportam a organização.
Na gestão das pessoas, existem acções que estimulam, ou desencadeiam, emoções negativas – inveja, ansiedade, hostilidade, ganância, medo, apatia, raiva… – que geram débitos emocionais na pessoa, nos grupo (departamentos) e na empresa como um todo. Uma gestão equilibrada deverá optimizar as emoções positivas – desafio, compromisso, paixão, confiança, orgulho, determinação, desejo… – para assim potenciar a pessoa, o grupo e a organização. Uma gestão de “irresponsabilidade social” põe em causa o bem-estar emocional dos colaboradores. Este défice não só é um erro em matéria de negócios, mas também um lamentável flagelo social, se pensarmos que passamos 2/3 da vida a trabalhar e que, obrigatoriamente, transferimos o “saldo” emocional laboral para a esfera pessoal, nas relações familiares, de amizade e sociais.
Para já, o maior desafio que este século apresenta aos gestores de RH é o alinhamento dos desejos individuais e organizacionais, gerando estados emocionais nos seus colaboradores que não só os façam mais felizes como homens, mas que os tornem mais positivos e produtivos nas respectivas funções, favorecendo o incremento do património emocional da empresa.
Filipe Teixeira de Vasconcelos
Profissional Sénior de Recursos Humanos